top of page

A história do martelo e os pensamentos automáticos

  • Foto do escritor: Alessandra Silveira Andrade
    Alessandra Silveira Andrade
  • 24 de abr.
  • 3 min de leitura

Um homem queria pendurar um quadro. O prego ele já tinha, só faltava o martelo. O vizinho possuía um, e o nosso homem resolveu ir até lá pedi-lo emprestado.

Mas ficou em dúvida: "E se o vizinho não quiser me emprestar o martelo? Ontem ele me cumprimentou meio secamente. Talvez estivesse com pressa. Mas isso devia ser só uma desculpa. Ele deve ter alguma coisa contra mim. Mas por quê? eu não fiz nada! Ele deve estar imaginando coisas. Se alguém quisesse emprestar alguma ferramenta minha eu emprestaria imediatamente. Por que ele não quer me emprestar o martelo? Como é que alguém pode recusar um simples favor desses a um semelhante? Gente dessa laia só complica a nossa vida. Na certa, ele imagina que eu dependo dele só porque ele tem um martelo. Mas, agora chega!"

E correu até o apartamento do vizinho, tocou a campainha, o vizinho abriu a porta. Mas antes que pudesse dizer "Bom Dia", o nosso homem berrou: "Pode ficar com o seu martelo, seu imbecil!"

(Paul Watzlawick)



Essa história escrita por Paul Watzlawick é uma metáfora brilhante — e até cômica — sobre como os nossos pensamentos distorcidos podem criar realidades que só existem dentro da nossa cabeça.

Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), chamamos isso de distorções cognitivas, que são maneiras enviesadas de interpretar situações, levando a emoções negativas e comportamentos desajustados.


Vamos destrinchar esse episódio à luz da TCC:


🔨 A Situação:

Um homem precisa de um martelo emprestado. É um pedido simples, cotidiano. Mas ele não age imediatamente. Em vez disso, começa a ruminar.


🧠 O Pensamento Automático:

Antes mesmo de bater na porta do vizinho, ele cria um diálogo interno repleto de suposições:

  • "Ele me cumprimentou secamente."

  • "Deve ter algo contra mim."

  • "Não vai querer me emprestar o martelo."

  • "Ele deve achar que eu dependo dele."

  • "Ele é um imbecil."


Esses pensamentos automáticos não são neutros — eles têm carga emocional e vão escalando até gerar raiva, ressentimento, e finalmente um comportamento impulsivo e hostil.


🔍 As Distorções Cognitivas Presentes:

  1. Leitura mental: Supõe que sabe o que o vizinho está pensando ("Ele deve ter alguma coisa contra mim").

  2. Rotulação: Chama o vizinho de “imbecil” — uma conclusão baseada em um pensamento, não em fatos.

  3. Inferência arbitrária: Tira conclusões sem evidências (“Ele não vai querer me emprestar o martelo”).

  4. Catastrofização: Amplia a situação para um cenário muito maior do que é (“Gente dessa laia só complica a nossa vida”).

  5. Personalização: Acredita que o comportamento do vizinho (cumprimento seco) foi algo pessoal, contra ele.

  6. Pensamento dicotômico: Tudo ou nada. Se o vizinho hesitar ou parecer seco, então é um inimigo.


🎭 O Comportamento:

Movido por pensamentos distorcidos, ele explode de raiva sem sequer testar a realidade. Não pergunta, não verifica, não dá ao outro a chance de se expressar. Apenas reage à própria fantasia.


🌱 Como essa metáfora pode ajudar?

Ela é uma forma leve e acessível de mostrar como nossos pensamentos moldam nosso mundo emocional e nossas atitudes — e que muitas vezes, estamos brigando com histórias que nós mesmos inventamos.


Na TCC, trabalhamos para:

  • Identificar esses pensamentos automáticos.

  • Confrontá-los com evidências.

  • Buscar interpretações mais realistas e funcionais.

  • Modificar comportamentos impulsivos.


🌊 Uma reflexão para deixar ecoando:

Quantos martelos já deixamos de pedir porque acreditamos demais na nossa própria narrativa?

ree


 
 
 

Comentários


bottom of page