Entre extremos, um chamado à compreensão (sobre o Transtorno Bipolar)
- Alessandra Silveira Andrade

- 20 de mai.
- 3 min de leitura
Vivemos em uma cultura que adora rótulos rápidos.
"Fulano é bipolar" virou quase uma expressão casual para se referir a mudanças de humor, como se oscilar entre alegria e tristeza fosse sinônimo de transtorno mental.
Mas o Transtorno Bipolar é muito mais do que isso.
É um desafio real, profundo, muitas vezes invisível, que carrega consigo uma montanha-russa emocional — e que pede, acima de tudo, cuidado, conhecimento e compaixão.
O que é o Transtorno Bipolar?
O Transtorno Bipolar é um transtorno de humor caracterizado por episódios distintos de mania (ou hipomania) e depressão.
A fase maníaca é marcada por uma energia excessiva, impulsividade, autoestima inflada, fala acelerada, insônia, comportamentos arriscados, e em alguns casos, até delírios de grandiosidade.
Já a fase depressiva traz um mergulho no oposto: desânimo intenso, perda de interesse pela vida, pensamentos negativos sobre si e sobre o mundo, lentidão, e em casos mais graves, pensamentos suicidas.
Nem sempre esses estados são extremos. Às vezes, os sinais são mais sutis — o que pode dificultar o diagnóstico.
Existem diferentes tipos do transtorno, como:
Transtorno Bipolar tipo I (episódios de mania intensa e depressão);
Transtorno Bipolar tipo II (episódios de hipomania e depressão);
Transtorno Ciclotímico, entre outros.
O que NÃO é Transtorno Bipolar
Não é “mudar de humor de uma hora pra outra”.
Não é ser “intenso” ou “emocionado”.
Não é sinônimo de instabilidade emocional do dia a dia.
Não é preguiça, fraqueza ou falta de esforço pessoal.
Reduzir o transtorno bipolar a “drama” ou “frescura” é desumanizar uma dor silenciosa que muitas pessoas enfrentam diariamente — com luta, com força, com coragem.
Como tratar?
O tratamento envolve, de forma geral, uma combinação de:
Acompanhamento psiquiátrico, com uso de estabilizadores de humor (como o lítio), antipsicóticos e/ou antidepressivos (com muito cuidado, pois podem desencadear episódios maníacos em algumas pessoas).
Psicoterapia, especialmente com abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que ajudam a reconhecer padrões de pensamento, a lidar com recaídas, a desenvolver habilidades de regulação emocional e a viver com mais presença.
Estilo de vida regulado: sono regular, alimentação equilibrada, prática de atividades físicas e autocuidado.
Rede de apoio, porque ninguém atravessa tempestades emocionais sozinho.
Como ter um olhar de compaixão?
Viver com o transtorno bipolar — ou amar alguém que o vive — é um convite diário à empatia. E a empatia começa quando deixamos de tentar "consertar" o outro para simplesmente escutá-lo e respeitá-lo.
✨ Alguns lembretes importantes:
A pessoa não “escolhe” estar em mania ou em depressão.
Não se trata de falta de vontade, mas de um funcionamento neuroquímico diferente.
O julgamento adoece; o acolhimento cura.
Frases como “você precisa se esforçar mais” ou “isso é coisa da sua cabeça” machucam mais do que ajudam.
Com o tratamento certo, é possível ter qualidade de vida, vínculos saudáveis e uma vida significativa.
🌿 Conectar é cuidar
Falar sobre transtorno bipolar é, também, romper o silêncio e combater o estigma.
É entender que por trás dos extremos, há uma história, há alguém tentando se equilibrar dentro do próprio corpo e da própria mente.
Se você está lendo isso e se reconhece nas palavras, saiba: você não está sozinho(a).
Há caminhos. Há suporte. Há vida possível além do diagnóstico.
E se você conhece alguém com o transtorno, lembre-se: sua presença pode ser âncora em dias de tempestade.
O amor, quando informado, vira refúgio.
Um abraço,
Alessandra Andrade | Psicóloga Clínica | CRP 12/27539
(48) 99648-2612






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